segunda-feira, 25 de julho de 2011

Myrian e a água que veio.






- Ô Myrian! Ô Myrian!

Portas se abrem, janelas também. Casas ressoam, pessoas em vaivém.

- O que foi?- Uma voz monótona e rouca de quem acabou de acordar...
- Vem uma água, Myrian! Vem uma água agora! Vai rasgar tudo, tudo por essa madrugada! Nossas casas, postes, sentimentos, censuras! Nossos corpos, sangue, nossas peles nuas! Tudo se vai! Tudo se vai! Tudo se vai... para voltar nunca mais.

Myrian mal se mexe. Em sua cama se aquece. Dormir é tão bom... sonhar é maravilhoso!
Para quê se acordar? Melhor em um sono profundo entrar... mesmo que seja para nunca mais voltar...

- Não. Eu vou...vou...ficar.
- Mas, Myrian... vão levar tua alma... Mas Myrian... e teu corpo, quem velará? A água? A água?
- Sim, sim... prefiro que seja a água... àqueles olhos febris que me cercam... de falsos amigos e familiares que pretensamente me veneram...
- Preferes a morte, então? É isto?!


Myrian abre seus olhos febris, verde como plantas em musgo... Estranha Myrian... qual é seu verdadeiro mundo? Qual é, Myrian, seu verdadeiro mundo? Talvez não seja este, por seu coração ser por demais fundo... Profundo.

Os alarmes são dados. Pessoas correm para todos os lados.
A água que vem carrega sem medo... o peso, o peso, carrega sem medo.

- Myrian...
- O que foi?
- Só não deixa a água te levar a imaginação, tudo bem?
- Tá... tentarei...tentarei.


E a água veio e levou tudo, mas de Myrian, nunca mais se ouviu falar... apenas de sua incrível criatividade, que bóia até hoje no mar...

...onde estranhos anjos se revezam para ela velar.





Um comentário:

Luiz Otavio Romano disse...

Muito bom Drica...ótimo texto.
Parabéns