domingo, 3 de julho de 2011

A menina no rio corrente...




Primeiro quis colocar os meus pés... naquela água.




Mas tive medo, afinal, eram tantas cores... e tanta cores podem acabar te cegando, não é?




Não podem elas te cegar completamente?




Mas pus mesmo assim...




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Ela era apenas uma menina... não como qualquer uma.




Palavra a descrever: diferente.




Vai ver sentia demais, queria demais, se doava demais...




Foi visitar uma velhinha, uma suposta feiticeira do lugar, sábia coruja de olhos bem abertos.




Seus longos cabelos iam até os pés... e seu estranho sorriso ia até os cantos da bochecha.




Mas transmitia uma boa energia...








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Queria saber se olhava primeiro para dentro de mim ou para dentro dela.




Tão estranha mulher... feiticeira... coruja de olhos bem abertos.




Iniciou-se o rito... abriu as mãos, espalhou pétalas sobre mim e me abençoou.




Deveria eu deixar?




Nem sabia mais quem era eu...




só queria me achar de novo, pelo menos mais uma vez... através de, quem sabe, outro algo... ou outra pessoa...








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Ela saiu dali abençoada e mais leve.




Chegou ao rio, ao rio prometido.




Lá várias folhas passavam, cada uma de uma cor.




Deveria pular em uma delas, tendo porém muito cuidado para não se afogar.




Confiança seria muito importante naquele momento, senão poderia afundar...




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Eu nem sei porque sorri para aquilo tudo.




Parecia mais um sonho...




E eram tantas cores nas folhas... grandes... mas não gigantes.




Cada uma mais bela do que a outra.




Poderia uma delas me levar a esse outro mundo?




Onde todos se amam e se querem?




Sem medo, sem maldade, sem estranheza?




Quem sabe a minha pessoa estaria lá... do outro lado?




Ou, pelo menos, o meu objetivo final...








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Ela tomou impulso...




pulou.




Na planta cor de rosa.




Na folha grande cor de rosa.




Que afundou... e a levou... até a beirada do rio, quase caindo na cachoeira de águas fundas do nunca mais...




Mas passou uma outra folha... grande e azul... chamando-a... pedindo-a que subisse...




e foi o que ela fez, sem medo, mas ainda desconfiada.




Havia sofrido demais ao cair da primeira.








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Peguei aquela folha como se fosse a última, mas sabia que não era. Ainda teria que passar por muitas até achar a certa, a que realmente me levaria ao reino do onde quero chegar, do onde quero estar, do onde quero amar.




E sabe?




Serei paciente... porém consciente de que a vida é sempre um ritual de passagem, um mudar de águas, de folhas... de vento... direção... e por isso é tão maravilhosa, mesmo em suas terríveis dores...








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E assim, como milhares de outras, ela se foi, se tornando mais uma linha no horizonte, achando seu caminho no meio da tempestade e da calmaria.




Bela menina, você chega longe, não desespere...




Menina doce, você lá chegará, onde tudo pode acontecer, onde tudo se realizará,

onde o rio desaguar...
























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