quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Fumaça e notícias indigestas.







E ela foi falando, falando... e lá para o meio da conversa... de sua boca saía apenas a fumaça... a fumaça do cinzeiro perto dali. Tendo cuidado, seus olhos vagaram... e não se ouvia mais nada...
pois tudo que conseguia pensar é que, dependendo da pessoa que fala, palavras se tornam apenas fumaça... que sobe, sobe, e se perde em algum lugar no universo das mentiras e divagações...

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Havia um anjo dentro. Sim! Dentro. Mas ele foi se tornando feio. Por que? Ninguém sabe.
Um papel amassado na rua, um olhar desviado, um jeito de falar trocado... e estava feito! Jamais voltaria ser como antes. E por que? Ainda assim o anjo dentro dele se perguntava como relações humanas podiam ainda serem tão delicadas.


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O cara chegou, sentou ali do seu lado. Macacão cinza. Pão francês. Um saco contendo queijo, o outro contendo mortadela. Abriu o jornal, pôs o queijo e mortadela no pão e deu uma vigorosa mordida. E ela o invejou. Apenas por ele poder fazer isso sem se importar se iria engordar ou não, em dar satisfação ao padrão imposto em pensamentos. Notícia: Padrasto abusa de enteada.



E aí que ela não entendeu como se pode se comer pão com queijo e mortadela junto a notícias tão indigestas....

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Espera o elevador.

- Mas é, amiga, você tem que ser forte. É isso que importa, agora você vai ter que ser forte.- Mantra repetido. Um olhar e vejo a maquiagem borrada nos olhos da recepcionista. Me comove. Ela desliga o celular e começa a falar, quase como se fosse óbvio que me devesse uma explicação. Quase como se fosse óbvio que pessoas que nunca se viram deveriam se falar, principalmente em uma situação tão delicada:

- O pai da minha amiga morreu. E ela mora em Fortaleza. E me sinto tão mal por não poder ir lá apoiá-la...

- Nossa... foi algo de repente mesmo?

- Sim, sim. De infarto. E ele era a fortaleza da família.- Vai ver que eu me sinta até próxima dela. Vai ver que compartilhamos essa mesma tristeza universal do que uma morte pode trazer a uma família. Só sei que me comoveu.

- Mas pelo menos você tá fazendo o que pode... dando apoio a ela, não é?

Ela se recompõe mais, enxuga mais as lágrimas. Tenta dar um sorriso.

- Sim,sim.

Elevador chega.

- Espero que tudo dê certo, de uma forma ou de outra...- é o que consigo dizer, ao que ela realmente sorri e fala:

- Sim, temos sempre que ter fé, sermos otimistas.

E as portas se fecham... e o elevador sobe, comigo e minha nuvem de pensamentos e reflexões...