sexta-feira, 27 de agosto de 2010

O texto, o teatro e a bula de remédio.

Uma vez, durante esse tempo em que estive estudando Artes Cênicas na federal, ouvi um professor dizer:

"Tudo pode virar um texto teatral! Até mesmo uma bula de remédio ou embalagem de shampoo! Basta você saber dar as intenções necessárias!"



Ouvi, achei engraçado. Mas nada de muito real.

Vocês têm que entender que nem sempre fui muito extrovertida... é...



Época de colégio, quando o professor perguntava quem gostaria de ler em voz alta um texto, geralmente eu nunca pedia, e admirava a coragem dos que se colocavam naquela situação, por livre e espontânea vontade. Quando, por acaso, eu era escolhida para ler e TINHA pois que ler, me batia um nervoso tão grande! Muitas vezes confundia as linhas e mal percebia o que estava lendo! Morria de medo de gaguejar...









Faculdade. Chego. Conheço.

Vou aprendendo. Teatro.

Teatro te liberta, de muitos medos, das vergonhas... mas só se você deixar.

Senão, continuará ali, presa em seu próprio mundinho cômodo, onde os medos se amontoam e você se encolhe diante deles...







Ontem, pois, decidi mudar mais essa situação minha. Resolvi enfrentar mais esse nervoso.



Professor diz:

"Quem se oferece para ler?"



Olho para ele, deparando-me com o silêncio da turma, e resolvo arriscar:

"Eu!"



Calma, não tão empolgado assim ainda,pois estava nervosa ainda...


"Eu?"

Professor diz que sim, é dada a largada...



Olho para o texto, ele olha para mim. Por quê tanto nervoso para lê-lo? Começo a tentar decifrá-lo mais, como se estivesse no palco, por que afinal de contas estou no meio de ouvintes que mal estão olhando para minha cara e sim para seu próprio papel, prontos a te ajudar e orientar no primeiro errinho...



"Nelson Rodrigues foi..."

Tum -Tum-Tum

"um grande escritor a quem sempre admirei..."

Tum .Tum.Tum

"e suas peças me trazem uma liberdade incrível..."

Tum...Tum...Tum...



Calma... Palavras! Elas estão aí para serem interpretadas, Adriana! Não se pode lê-las sem emoção, imparcialmente, a não ser que isto seja pedido. Mas como agora não... VOU ME SOLTAAR!



Hahaha.

Calma... só li tentando mesmo interpretá-las, saboreando cada consoante e vogal, como uma deliciosa refeição! Queria passar para todos ali o sentimento do autor do texto, queria fazê-los rir se era a inteção, fazê-los pensar, outra intenção... mas, o principal e primordial de tudo...

fazê-los prestar atenção ao que estava sendo dito.



E acredito ter conseguido, de certo modo... Sei que por outro lado pode ter sido apenas impressão minha, e pode ter sido apenas por que o texto era importante e tudo o mais mas... não há nada mais empolgante do que tentar dar vida a algo que, primeiramente, você sabe que se leria ,muitas vezes, de um modo morto...



Palavras têm vida! E como tem!

Aprendi então que o teatro, quando está realmente arraigado em você, mesmo que suas raízes ainda estejam crescendo... te acompanha para qualquer lugar, seja ele qual for, em qualquer momento e situação!



Enfim... me sinto sortuda de fazer parte dele... e feliz por ainda conseguir achar maneiras de descobrí-lo nos lugares mais inesperados, desde um texto de sala até,quem sabe, uma bula de remédio...

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